...Anísio Teixeira. Sem
dúvida, um dos maiores representantes da nossa Educação.
Suas obras e seus conceitos continuam sendo ricas fontes de conhecimento e de inspiração para os que se preocupam com a educação e com o futuro do nosso país.
Suas obras e seus conceitos continuam sendo ricas fontes de conhecimento e de inspiração para os que se preocupam com a educação e com o futuro do nosso país.
Anísio deixou como herança um acervo que tem sido objeto de pesquisas, monografias e teses. Seus textos são revisitados com freqüência como fonte primária para as investigações da história da educação brasileira, por estudiosos de variadas áreas do conhecimento.
Anísio ao analisar a importância da educação, como centro de uma política de desenvolvimento social, criticou nossos sistemas arcaicos de ensino, com seus métodos obsoletos, as falhas na organização das escolas e a formação equivocada dos professores, enfim, tocou em todos os pontos que se referem à educação. Nada passou incólume aos olhos daquele pensador.
Já em 1933 ele falava das duas tendências sociais que modelavam a vida moderna: ciência e democracia. Ele disse que "a civilização moderna tem uma feição singular; ela é uma civilização em permanente mudança". Ciente das mudanças que ocorriam no mundo e preocupado com os destinos do país, e por decorrência, com a educação do nosso povo, ele trouxe para si a árdua missão de defender a escola pública.
Ao apontar caminhos para a reconstrução educacional, em uma
sociedade mais justa e mais humana, Anísio se nutriu da utopia de uma
escola pública de qualidade para todos e para qualquer um. Utopia, não
como algo quimérico, irrealizável ou fantasioso mas, utopia como aquilo
que se pode sonhar e se constituir em outro topos, em um lugar onde se
pode fazer alguma coisa. Uma utopia racional, como dizia ele, fundada na virtualidade e potencialidade dos conhecimentos humanos existentes, aqui e agora.
É nesse sentido que caminhava seu idealismo e sua visão
profética de uma escola de qualidade, legitimada pelo postulado que
todos os homens são suficientemente educáveis para conduzir a vida em
sociedade, de forma que cada um, e todos, dela partilhassem como iguais, a despeito das diferenças das respectivas histórias pessoais e das diferenças individuais.
Afirmamos que o Professor Anísio Teixeira, sem nenhuma dúvida,
foi um dos mais importantes protagonistas da Educação Brasileira, de
todos os tempos, e um defensor ímpar da educação democrática. Ele
defendeu a democracia como necessidade vital da sociedade moderna. Lutou
por isto, até seus últimos dias, e foi uma vítima desta luta.
Por tudo isto volto a dizer que é um desafio falar do
pensamento desse homem: um intelectual cuja vida foi exemplo de
coerência entre pensar e agir.
Seria veleidade minha admitir originalidade nesta fala.
Sabemos todos que falar é se expor. Ao aceitar o convite da Presidência
desta histórica Associação Brasileira de Educação, que muito me
honra, eu me exponho ao vivo e a cores e submeto ao julgamento dos
senhores presentes, algumas reflexões que fiz sobre um tema muito em
evidência na nossa sociedade: a formação dos professores e a utilização
dos Meios da Educação a Distância. Este é o recorte que faço nas obras
de Anísio Teixeira. E é a partir dele que teço considerações sobre a
atualidade de seu pensamento. Procurei fazer um como-se-fosse-diálogo-imaginário com seus textos. Mas, me detive, basicamente, em Mestres de Amanhã onde esta questão é mais evidente.
MESTRES DE AMANHÃ.
A produção intelectual de Anísio Teixeira é rica, original e
abrangente. Entretanto é possível identificar um eixo em torno do qual
giram suas reflexões, inquietações e idéias:
a crise da educação
brasileira. É a partir da visão dessa crise, de sua evolução e nuanças
que seu pensamento atravessa mais de meio século e se mantém vigoroso
até hoje. Talvez, alimentado por nossa própria crise.
A idéia de crise aparece nos textos de Anísio como o
rompimento entre o passado desgastado, que já não se considera influente
e um futuro que ainda não está constituído. A idéia de crise é a
transição que implica em uma separação. E, como toda separação um
afastamento, um distanciamento, entre o que era, o que foi e o que
virá-a-ser. Mas nem sempre é fácil caracterizar o momento exato de
separação, pois não existe um antes e um depois como momentos
diferenciados e nitidamente definidos. O antes permanece no depois e
vice versa, mantendo sua marca e interação dinâmica.
Uma crise não pode ser considerada somente como estado caótico
e turbulento. De modo geral ela é também construtiva já que permite a
criação de nossos espaços para o futuro. Ou seja, ela é sempre uma fase
cheia de perigos mas, também, de possibilidades. E é com esse olhar
dialético que Anísio vê as crises de seu tempo. Como um homem público
que passou grande parte de sua vida dentro dos Governos, vivendo sob
tensão, ele denuncia: a situação de transição em que se encontra o
Brasil faz com que o seu desenvolvimento esteja sob a influência de
forças que não são as mais aptas para a sua integração na civilização
tecnológica e industrial de amanhã. Mas ao mesmo tempo em que ele
denuncia, rascunha soluções, apresenta caminhos de superação para os
impasses em que a sociedade se encontrava.
Para o educador baiano, a crise do processo educacional desenvolve-se nesse espaço: o da inadequação entre as necessidades emergentes da época e o espírito do homem de até então. Pensar o futuro significa agir na sua direção. Para isso é fundamental romper as barreiras reais e imaginárias, incluindo-se aí, a formação de professores. Ele viu, nitidamente, que o mestre da escola elementar e da secundária, o nosso professor do ensino básico, é que está em crise. E se vê mais atingido e compelido a mudar pelas pressões do tempo presente. E por quê?, indaga ele. Pelo fato de que estamos entrando em uma fase nova da civilização chamada industrial. Se isso foi dito à cerca de quase meio século, imaginem hoje quando nos aproximamos da era pós-industrial.
Seus comentários reforçam nossas preocupações quando ele diz que "até
então, a educação do homem tem sido na direção de uma sociedade mais
simples, ou seja, escolas desambiciosas cujo propósito mais imediato era
formar jovens para o convívio político, social e econômico de uma
sociedade de trabalho competitivo mas, que se acreditava relativamente
singela e homogênea. Com a tecnologia e com a extrema complexidade
conseqüente da sociedade moderna, mudanças radicais precisam ser feitas".
Ele se reporta a aceleração do processo científico-tecnológico como
algo complexo que impõe terríveis mudanças à vida humana.
Reconhece que,
em termos de educação, ainda pouco se fez no sentido de preparar o
homem para a época a que foi arrastado pelo seu próprio poder criador.
Textualmente diz que "todo o nosso passado, os nossos mais caros
preconceitos, os nosso hábitos mais queridos, a nossa agradável vida
paroquial, tudo isto se levanta contra o tumulto e a confusão de uma
mudança profunda de cultura, como a que estamos sofrendo. Contudo, a
mocidade, está a aceitar esta mudança, é verdade que um tanto
passivamente, mas sem nada que lembre a nossa inconformidade. A mudança,
todos sabemos, é irreversível. Só conseguiremos restaurar-lhe a
harmonia, se conseguirmos construir uma educação que a aceite, a ilumine
e a conduza no sentido humano".
A atualidade desse pensamento é evidente quando se considera os benefícios que a engenharia genética, a informática, a utilização de rádio-isótopos trouxeram à medicina. Que a zootecnia permite o aperfeiçoamento de espécies animais; que a agricultura, não depende somente da mãe natureza, pode produzir alimentos em escala.
Aparentemente, conseguimos realizar o sonho cartesiano de
donos e senhores da natureza. Contudo, o que pode proporcionar melhorias
nas condições de vida para o homem, como por exemplo a longevidade, o
conforto, a comunicação, o aprimoramento em espécies animais, enfim, a
produção do paraíso na Terra, dialeticamente traz consigo o seu
contrário, o purgatório. Ou melhor, talvez, o inferno.
Anísio já sentia a turbulência desses novos tempos. Sua fala é uma advertência ao que hoje presenciamos: "os
meios modernos de comunicação fizeram do nosso planeta um pequenino
planeta e dos seus habitantes, vizinhos uns dos outros. Por outro lado,
as forças do desenvolvimento também nos aproximaram e criaram problemas
comuns para o homem contemporâneo. Tudo está a indicar que não estamos
longe de formas internacionais de governo". De certa forma, o
presságio de ontem já se efetiva hoje com um mundo de conquistas e
ansiedades, de conforto e de insegurança, mas longe ainda da harmonia
desejada.
Palestra proferida na Associação Brasileira de Educação - ABE
Profa Nilda Teves. Rio de Janeiro - 2000
http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/per11.htm
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